quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O VERDADEIRO EVANGELHO



“Porque, na muita sabedoria, há muito enfado; e o que aumenta em ciência aumenta em trabalho”. Eclesiastes 1:18

Pensar, refletir, avaliar é uma arte que está se perdendo, vivemos na era do fast-food e dos combos, tudo visando a rapidez e o consumo.

Aprendemos na história da filosofia antiga, que um homem chamado Sócrates saía pelas ruas, colocando em prática a frase escrita no templo de delfos: “Conhece-te a ti mesmo”.



Sócrates fazia perguntas ligadas a moral e ao cotidiano,como: “O que é a coragem?”.

Alguns usavam estórias para responder às perguntas. Sócrates não queria estórias sobre coragem, e sim, o que é isto – coragem? (ti estin).

Os atenienses que respondiam, pensavam que sabiam, mas na verdade o que conheciam, não se baseava em uma convicção interior, fruto de reflexão.
 Eram meros repetidores de estórias.
O que influenciou uma outra declaração de Sócrates muito conhecida: “Só sei que nada sei”.

Essa frase denuncia que, em algo ele era melhor que os seus interlocutores, ele sabia que não sabia.

Quero extrair uma lição dessa jornada socrática: o que declaramos saber, é fruto de convicções, de convencimento interior, ou somos meros repetidores de estórias?

Quando achamos que sabemos, nos acomodamos.

Quando não sabemos, nos lançamos na busca, na investigação.

Procuramos averiguar a origem das coisas, ou usamos mitos e estórias para sustentar nossas fracas verdades? Será que existe alguém, que acredita que o fogo veio por uma intervenção de Prometeu?

Não me considero, um homem sábio, mas concordo com o texto de Salomão, pois  me sinto cansado.

Cansado de ver o Evangelho ser reinventado a cada semana, com novos contornos e nuances.
Justifico o uso do termo evangelho em diversos arranjos, formando neologismos, baseado no que disse Paulo:
Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema”. Gálatas 1:8

Um evangelho cosmético, que trata de superficialidades, que mascara imperfeições. Que impressiona com seus contornos e cores, porém, só age na superfície.

Algo semelhante aconteceu na época de Jeremias, e não é de admirar que ele tenha falado sobre isso inúmeras vezes:
“Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz”. Jeremias 6:14 e 8:11

O profeta Jeremias, não era muito admirado pelos seus conterrâneos, pois denunciava o arranjo religioso em que os sacerdotes e o povo viviam. O relacionamento religioso, era um arranjo, uma cumplicidade.

Os Sacerdotes falavam o que o povo queria ouvir. Com uma mensagem que não tratava da realidade.
O povo por sua vez, se contentava com uma palavra que era conveniente aos seus anseios.

Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?”. Jeremias 5:30

Um evangelho hedonista, que coloca acima de tudo o prazer e a satisfação pessoal.

O prazer e a satisfação, são colocados como fim.
Nesse evangelho, não há lugar para dor, perda ou renúncia. Os seguidores desse evangelho, mal falam de céu, pois suas expectativas se resumem às coisas da terra.

“Portanto, matem os desejos deste mundo que agem em vocês, isto é, a imoralidade sexual, a indecência, as paixões más, os maus desejos e a cobiça, porque a cobiça é um tipo de idolatria. Pois é por causa dessas coisas que o castigo de Deus cairá sobre os que não lhe obedecem. Antigamente a vida de vocês era dominada por esses desejos, e vocês viviam de acordo com eles”. Colossenses 3:7 (NTLH)


Um evangelho alucinógeno, que gera sensações, com uma dose exagerada de emocionalismo. Com frases de efeito e muita luz. Seu efeito é passageiro. Nos dias após o culto, já não faz nenhum efeito. Não há mudança na família, no caráter e na moral. Sua ênfase são as sensações.

Mas alguns andam inchados, como se eu não houvesse de ir ter convosco. Mas, em breve, irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas a virtude. Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude”. 1 Coríntios 4:18-20



Um evangelho de castas, que separa a igreja em: “Eklesia Docens” e “Discens”, ou seja, uma igreja docente e uma igreja discente, constituída de clero  e leigos. Na idade média, isso era muito evidente, até porque as missas e documentos oficiais da igreja eram em latim. Língua que gente comum não entendia. Muitos hoje têm transformado as funções em frações.  O que deveria unir e servir, têm sido usado para separar e para desservir.



Poderia elencar outros evangelhos, porém, quero falar um pouco do Evangelho de Jesus Cristo.

Não há como dissociar o Evangelho da Igreja.



Considero interessante, a definição de Leonardo Boff sobre a Igreja:

“A Igreja é aquela parte do mundo que, na força do Espírito, acolheu o Reino de forma explícita na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado em nossa opressão, guarda a permanente memória e a consciência do Reino, celebra sua presença no mundo e em si mesma e detém a gramática de seu anúncio, a serviço do mundo”.



A Igreja é formada, por àqueles que acolheram o Reino de Deus, receberam a Cristo em seus corações e são habitados pelo Espírito Santo.

Em seus corações habita: o amor, a justiça...e a eternidade.

Não seguem o espírito do mundo. São contextualizados e desatualizados. Enxergam a realidade das coisas que o cercam e ao mesmo tempo as rejeitam.

Não se amoldam aos conceitos desta geração. São transcendentes, i.e. aquilo que transcende a nossa própria consciência. Têm a mente de Cristo.

“Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”. 1 Co 2:16

A mensagem do Evangelho, é focada na reconciliação:

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. 1 Coríntios 5:18-21

A mensagem do Evangelho é inclusiva:

Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho”. Mateus 11:5



A mensagem do Evangelho proclama o Reino de Deus:

“E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo”.Mateus 4:23



O Evangelho manifesta a salvação mediante o poder de Deus:


“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.



O Evangelho alcança os desfavorecidos e injustiçados:

Jesus se preocupa com os pequenos, com os famintos, com os que passam frio e com os que padecem.

“E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não me visitastes. Então, eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna”. Mateus 24:32-46



Jesus chama de benditos, os que se compadecem e de malditos os que não se importam.

Reflitamos: A Igreja tem verdadeiramente cumprido o seu papel?

Vamos responder ou contar estórias?


Que Deus tenha misericórdia de nós!


Graça e paz,

Pr. Isaias de Oliveira Silva

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